A cafeicultura no Brasil é um dos pilares do agronegócio nacional, destacando-se como uma das principais atividades agrícolas do país. O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, responsável por cerca de 40% da produção mundial. 

Essa posição de liderança, porém, é acompanhada de inúmeros desafios, entre eles a luta constante contra as pragas que ameaçam a produtividade e a qualidade da cultura.

Entre as principais pragas que afetam o café, destacam-se a broca-do-café, o bicho-mineiro, diferentes espécies de ácaros, além das cigarras. O manejo adequado dessas pragas é essencial para garantir a viabilidade econômica da cafeicultura e a manutenção de sua competitividade no mercado global.

Neste artigo, falaremos sobre as características e os impactos das principais pragas do café e apresentaremos as estratégias de manejo, com foco no Manejo Integrado de Pragas (MIP), que visa otimizar o controle e minimizar os prejuízos econômicos.

A importância econômica do café no Brasil

O café ocupa uma posição de destaque na agricultura brasileira, tanto do ponto de vista histórico quanto econômico. Introduzido no país no século XVIII, o cultivo do café foi responsável por moldar o desenvolvimento de diversas regiões, especialmente no Sudeste, onde Estados, como Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, se consolidaram como os maiores produtores da commodity.

Atualmente, o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, responsável por aproximadamente 40% da produção global

O país se destaca tanto pela produção de café arábica, o mais valorizado no mercado internacional devido à sua qualidade superior, quanto pelo café robusta (conilon), que possui características distintas e é utilizado principalmente em blends e produtos industriais.

A cafeicultura brasileira é amplamente diversificada, com diferentes regiões produtoras oferecendo uma vasta gama de sabores e características sensoriais, dependendo do terroir e das condições climáticas. 

Minas Gerais, por exemplo, é conhecido por produzir cafés de alta qualidade, com notas doces e frutadas, enquanto o Espírito Santo é o maior produtor de café conilon.

O café no Brasil está profundamente enraizado na história e na cultura do país, sendo fundamental para a economia, especialmente nas regiões produtoras. A adaptação da cafeicultura aos desafios da produção, como as pragas, é extremamente importante para o país seguir mantendo seu papel de destaque no mundo.

Broca-do-café: a praga mais temida da cafeicultura

A broca-do-café (Hypothenemus hampei) é, sem dúvida, uma das pragas mais destrutivas para a cultura do café. Esse pequeno besouro é responsável por grandes perdas econômicas. 

A praga se alimenta dos grãos de café, perfurando-os e depositando seus ovos no interior das sementes. Uma fêmea adulta pode colocar até 75 ovos durante sua vida

As larvas, de coloração branca, ao se alimentarem dos grãos quando estão em pleno desenvolvimento, reduzem significativamente sua qualidade, perdendo quase todo o peso do grão e comprometendo o valor comercial da produção.

O ciclo de vida da broca está diretamente relacionado ao desenvolvimento dos frutos de café, o que a torna uma praga recorrente nas principais áreas cafeeiras do Brasil. A duração média do ciclo, desde a postura até a fase adulta, é de aproximadamente 30 dias, influenciado por condições bióticas e de clima. No entanto, o besouro adulto pode viver, em média, 156 dias. 

O adulto é um besouro preto, e apenas as fêmeas conseguem voar. Os machos permanecem nas sementes dos frutos. 

Bicho-mineiro: uma ameaça às folhas do cafeeiro

O bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) é outra praga de grande relevância na cafeicultura brasileira. Suas larvas possuem inicialmente uma coloração esbranquiçada e translúcida e, ao decorrer dos quatro ínstares de desenvolvimento, se tornam amarelo-esverdeadas. 

As larvas atacam o mesófilo foliar, formando galerias (ou minas), o que prejudica a fotossíntese da planta e, consequentemente, sua capacidade produtiva. As minas geradas pela alimentação da larva também causam necrose nas folhas e, em situações de ataques severos, o inseto pode causar a desfolha das plantas.

Na fase de formação da pupa, as larvas saem das minas das folhas e formam um casulo de seda. É muito comum que as pupas sejam encontradas na região da “saia” das plantas, onde se acumulam as folhas mortas.

Na fase adulta, o bicho-mineiro possui hábito noturno e, durante o dia, se abriga nas folhas do cafeeiro. 

O ataque dessa praga é mais danoso e intenso em regiões de clima quente e seco. É também em climas quentes que o ciclo da praga pode encurtar e ocasionar uma grande proliferação e o aumento da população.

Ácaros do café: os diferentes tipos e seus impactos

Os ácaros também representam uma ameaça significativa para a cultura do café, sendo as principais espécies o ácaro-vermelho (Oligonychus ilicis), o ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) e o ácaro-da-mancha-anular (Brevipalpus phoenicis). Embora pequenos, os ácaros podem causar grandes danos às plantas, comprometendo sua vitalidade e produtividade.

  • Ácaro-vermelho: essa espécie ataca as folhas do ponteiro do cafeeiro, provocando manchas com um aspecto de bronzeamento que reduzem a capacidade fotossintética das plantas. Quando não controlado, o ácaro-vermelho pode causar desfolhamento severo.
  • Ácaro-branco: ataca a face inferior das folhas, levando à deformação e ao enrolamento, principalmente das folhas mais jovens.
  • Ácaro-da-mancha-anular: essa praga está associada à transmissão de vírus que causam lesões nas folhas e nos frutos, impactando diretamente a produção e a qualidade do café. Além desse vírus, o ácaro causa manchas cloróticas nas folhas e nos frutos.

As cigarras e seu impacto nas raízes do cafeeiro

As cigarras são conhecidas por causar danos severos às raízes do cafeeiro. Entre as espécies que mais causam problemas estão Quesada spp., Carineta spp. e Fidicina spp. 

As fêmeas adultas costumam depositar seus ovos no tronco das plantas. Os ovos são brancos e alongados, medindo aproximadamente 2 mm de comprimento. Após a eclosão, as ninfas se infiltram no solo para parasitar as raízes. Normalmente, a maioria dos indivíduos está nos primeiros 35 cm de profundidade do solo, em regiões próximas às raízes. 

Durante seu ciclo de vida, as larvas das cigarras se alimentam das raízes, prejudicando a absorção de nutrientes e água, o que resulta na redução do crescimento e da produtividade das plantas. Além disso, as cigarras podem provocar o enfraquecimento das plantas, tornando-as mais suscetíveis a outras pragas e doenças.

O manejo das cigarras é um desafio, pois a maior parte de seu ciclo de vida ocorre abaixo do solo, dificultando o monitoramento e o controle dessa praga.

Outras pragas do cafeeiro

Além das espécies já comentadas anteriormente, o cafeeiro também pode ser prejudicado por outras pragas, tais como:

  • lagartas (Eacles imperialis magnifica; Oxydia saturniata);
  • cochonilha-da-raiz (Dysmicoccus cryptus);
  • cochonilha-da-parte-aérea (Planococcus spp.), e
  • mosca-das-raízes (Chiromyza spp.)

O controle dessas pragas requer estratégias específicas, combinadas com práticas preventivas, como o monitoramento constante e o uso de diferentes métodos de controle.

Manejo Integrado de Pragas (MIP) no café

Diante da diversidade de pragas que afetam o café, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) surge como uma das principais estratégias para o controle eficiente e sustentável das infestações. 

O MIP busca combinar diferentes táticas de controle, visando otimizar o uso de defensivos e reduzir os impactos negativos das pragas, ao mesmo tempo que mantém suas populações abaixo do nível de dano econômico.

O que é o nível de dano econômico?

Nível de Dano Econômico (NDE) é um dos conceitos-chave do MIP. Ele define a população de uma determinada praga que, se não controlada, causará prejuízos financeiros maiores do que os custos para seu controle. 

O NDE varia conforme a espécie da praga, o estádio de desenvolvimento da cultura e as condições ambientais. No caso da broca-do-café, por exemplo, uma pequena população já pode representar perdas significativas devido ao impacto direto na qualidade dos grãos.

Nível de Controle: quando agir?

O Nível de Controle (NC) está diretamente relacionado ao NDE e indica o momento em que o controle da praga deve ser iniciado. 

Em outras palavras, é o ponto em que a população da praga se aproxima do nível de dano econômico e a intervenção se torna necessária para evitar prejuízos. Esse nível é determinado pelo monitoramento constante das áreas e pela observação de sinais de infestação.

Nível de Equilíbrio: manter o controle de forma sustentável

O Nível de Equilíbrio é o ponto em que a população da praga se mantém abaixo do NDE, de forma que seus danos são minimizados, mas sem causar prejuízos econômicos. Esse nível é alcançado por meio do uso de diferentes controles, como biológico, práticas culturais e químico.

O grande objetivo do MIP é manter as populações de pragas em níveis de equilíbrio utilizando diferentes formas de intervenções, o que contribui para uma produção mais sustentável e para a preservação do meio ambiente.

Estratégias de controle dentro do MIP

Dentro do MIP, diversas estratégias podem ser adotadas para o controle das pragas do café, incluindo:

  • Monitoramento: o monitoramento constante das plantas, principalmente por inspeção visual, é essencial para detectar o surgimento de pragas e determinar o momento correto para a aplicação de medidas de controle.
  • Controle cultural: a adoção de técnicas que aumentam a resistência das plantas, como podas regulares, adubação equilibrada e o manejo adequado da irrigação, pode ajudar a reduzir a incidência de pragas. O plantio de cultivares tolerantes também é uma medida eficaz dentro do MIP.
  • Controle biológico: o uso de inimigos naturais, como parasitoides e predadores, é uma das principais ferramentas do MIP. Nessa estratégia, o controle é realizado de forma natural, com a introdução ou a manutenção dos organismos antagônicos na área de produção.
  • Controle químico: uso de defensivos agrícolas de maneira criteriosa e conforme as diretrizes do MIP, sempre acompanhando os níveis de controle e dano econômico estabelecidos. Ao usar este tipo de controle, é importante estar atento e seguir rigorosamente as recomendações técnicas do fabricante quanto às doses, aos intervalos de aplicação e demais informações relevantes para um bom efeito do produto. Também é muito importante realizar a rotação de moléculas, visando aumentar o tempo de eficácia da tecnologia. 

Estratégias sustentáveis para o controle eficaz de pragas na cafeicultura

A cafeicultura no Brasil enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao manejo de pragas, especialmente em um cenário de crescente demanda por café de alta qualidade. No entanto, o uso de práticas, como o MIP, oferece uma estratégia sustentável e eficaz para minimizar os danos causados por pragas, como a broca-do-café, o bicho mineiro, os ácaros e as cigarras.

Ao combinar diferentes técnicas de controle, como uso de inimigos naturais, práticas culturais adequadas e controle químico, o MIP permite aos cafeicultores manter a produtividade e a qualidade da produção, ao mesmo tempo que reduz os impactos ambientais e os custos. 

Dessa forma, o MIP é um dos pilares para garantir a sustentabilidade e a competitividade da cafeicultura brasileira no cenário global. A aplicação correta desse sistema permite um manejo mais eficiente das pragas, preservando o equilíbrio ecológico das áreas e evitando prejuízos econômicos significativos.

Com o MIP, os produtores podem adaptar suas estratégias conforme as condições específicas de cada safra e região, garantindo que o café brasileiro continue sendo reconhecido por sua qualidade e atendendo às exigências por práticas mais sustentáveis no mercado internacional. 

O investimento em inovação, capacitação e monitoramento contínuo será essencial para que o Brasil mantenha sua liderança no setor e supere os desafios impostos pelas pragas.